O Day1 de Paola Carosella não foi quando abriu pela primeira vez um restaurante, nem quando fechou, mas o dia em que morreu de medo ao tomar uma decisão.

“Paolaaaaa, il pranzo è servito!” – a avó gritava da cozinha, com a comida posta à mesa, chamando a neta para o almoço. Na família italiana, fins de semana e férias significavam fartura. Raviolis fechados a mão pela matriarca, um por um, recheados de frango desfiado preparado por ela, com molho feito dos tomates cultivados por ela, manjericão e alho da horta dela, com queijo ralado maturado por ela.

Ali, a menina se encantou. Com os cheiros, sabores, o gesto de presentear o outro com a comida. Quis cozinhar tão bem quanto suas avós.

No apartamento em que passava os dias que não eram nem fins de semana nem férias, foi brincando que aprendeu. Lá morava com a mãe, Irma, uma mulher forte, gentil, porém triste, que passava praticamente todo o tempo fora, trabalhando, estudando, ou trancada em seu quarto.

FILHA ÚNICA DE PAIS SEPARADOS, ERA NA COZINHA QUE PAOLA PASSAVA O DIA SOZINHA, CRIANDO.

Imitava as moças dos programas de culinária da TV e improvisava receitas com o que tinha na geladeira — pão de forma, maionese, ovos, latas de atum… Falava com o nada, sujava louça e lavava louça, fazia barulho, combinava cheiros, aquecia a casa com o fogão e o que mais pudesse fazer que ganhasse da solidão na briga por espaço.

A cozinha que a acolheu também a fez descobrir um talento. É por isso que, décadas depois, chegado o momento de tomar uma decisão que definiria os anos mais importantes de sua vida adulta, Paola podia confiar em uma certeza:

Eu sou cozinheira

Essa era a garantia que tinha. Quando veio a necessidade de redefinir a rota, quando não tinha mais nenhum centavo, quando morreu de medo. “Eu sou cozinheira, faço comida tão bem quanto minhas avós.”

O ano era 2012 e Paola comandava o Arturito, que já havia alguns anos fazia sucesso em São Paulo. Ele só não era bem o que ela acreditava que ele deveria ser — mais amável, democrático, aberto. Mas, da Argentina, seus 7 sócios se importavam mais com o faturamento do que com a opinião da chef. No Brasil, apenas ela trabalhava para manter o negócio de pé.

O Brasil estava caminhando para uma mudança, uma crise se acercava, e a alta gastronomia ia mudar com ele. Ela sabia que a proposta do Arturito precisava mudar também, e rápido.

Do lado pessoal, Paola tinha 40 anos, uma filha de 2, um relacionamento falido e vivia no cheque especial.

“Eu estava muito cansada de ser infeliz”

Chegou em casa depois do trabalho — um dia difícil como todos os outros vinham sendo. Pensou e analisou as opções que tinha, franziu a testa até doer o rosto.

Abandonar tudo nem passava pela cabeça. Vender sua parte e arcar com o prejuízo não parecia uma boa ideia. Encontrar um sócio que comprasse a parte dos outros 7 lhe dava pânico — chega de entrar em sociedades erradas. Então apenas uma saída era lógica.

“NAQUELE DIA, EU DECIDI QUE EU IA DAR VALOR AO MEU VALOR”

Só que além disso, teve que ser todo o resto: se tinha privada entupida, frango que não chegava, colaborador que não aparecia, fogão quebrado, compromisso no sindicato, pendências na Junta Comercial, era ela quem estava lá. Em todos os lugares. Menos na cozinha.

Precisava se reconectar com a sua arte.

Precisava de alguém que fizesse da sua arte um negócio.

As únicas certezas que a gente ganha ou aprende na vida, elas se aprendem no inferno, nunca no paraíso. Eu havia errado suficiente para saber reconhecer quem poderia ser a pessoa que tivesse as características e que fosse do jeito que pudesse me completar”, diz.

Eis que surge o Benny. E de um encontro ao acaso, nasce uma parceria para a vida. Juntos, ele e Paola tocam o Arturito e montaram o La Guapa, loja de empanadas que já tem 3 unidades em São Paulo.

A dupla também trabalha diretamente com uma cooperativa de mais de 30 famílias de agricultores de Parelheiros, que fornecem orgânicos para os restaurantes e cuja renda chegou a aumentar em até 6 vezes. “Nós crescemos de forma lenta e sólida, mas a cada passo que damos, nós espalhamos para os lados. Tenho orgulho da forma como trabalhamos.”

Hoje Paola tem mais garantias e certezas, como a de que tem ferramentas para traçar o próprio destino. “Minha riqueza vem de olhar para trás e saber que eu sonhei alguma coisa, que consegui fazer, e de olhar para frente e saber que esses sonhos que eu tenho não têm limite e que eu não vou parar.

Fonte: Endeavor

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